terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A vida antigamente era mesmo melhor?

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Será, como querem os saudosistas, que a vida era mesmo melhor antigamente? E esse antigamente tem quanto tempo? Dez anos? Trinta? Cinquenta? Tudo bem: não havia assaltos nem flanelinhas nem sequestros e se podia sair à noite sem preocupação. Copacabana era um bairro familiar onde as crianças brincavam alegres e felizes; em Ipanema, havia pitangueiras; e na Lagoa, garças. Mas era só isso? Será?




Sem precisar voltar demais no tempo, a vida já foi melhor, sim, mesmo para quem não tem como profissão olhar para trás. Não se falava em colesterol, por exemplo; todo sábado tinha feijoada, o tira-gosto era torresmo; e as pessoas mergulhavam de cabeça no caldeirão do feijão, sem uma só inquietação quanto a gorduras, calorias e culpas – palavra, aliás, que não existia. Ah, a gente era feliz e não sabia.



Hoje, os corajosos se servem pedindo desculpas e a maioria só prova a couve e a laranja. No lugar de divinizar o paio, o rabo de porco e o toicinho, falamos de dieta, dos perigos do infarto e que, a partir de segunda-feira, vamos começar vida nova e comer só saladas. E isso é assunto para uma tarde de sábado?



Claro, todos gostaríamos de ser jovens, ter a vida pela frente e celulite zero. Pensando bem, tivemos uma juventude maravilhosa, pós-pílula e pré-aids. Só que quisemos ser independentes muito cedo, e ninguém nos contou que a independência é boa, mas tem seu preço. Seja sincera: você não tem vontade, às vezes, de ser totalmente dependente, mesmo que isso implique absoluta falta de liberdade para pensar ou agir? Entregar todas as decisões de sua vida a uma pessoa que vai escolher desde a cor do sofá até para onde vocês vão nas férias, ah, que delícia.



Vamos pensar, aliás, recordar coisas muito simples. Havia uma festa – aliás, havia muitas festas; você conhecia uma pessoa interessante, trocavam telefones, marcavam alguma coisa. Chegava o dia do encontro e a coisa se passava mais ou menos assim: em primeiro lugar, o dia inteiro na praia, para pegar uma cor. Às 20h30 era tirar o gelo, escolher os discos certos para criar um clima e pegar um uísque e um cigarro para esperar. Ele atrasava apenas os 30 minutos regulamentares – afinal, chegar na hora combinada era considerado careta. Conversavam, bebiam um pouquinho para se conhecerem melhor e saber quem preferiam, se Chico ou Caetano. Então, escolhiam um restaurante simpático, depois iam dançar e, mais tarde, só Deus sabe. A vida era fácil, ah, se era.



Hoje é proibido tomar sol, beber nem pensar; só refrigerante, de preferência diet – e, se um dos dois puxar um cigarro e o outro não fumar, já ficam evidentes as diferenças ideológicas entre as partes. Com tudo caríssimo, só dá mesmo para pizza; dançar depois, esqueça. Com um início tão promissor, e os perigos que todo mundo sabe, introduzir na conversa o tema camisinha, sinceramente: menos estimulante, impossível.



Temos muita, muita inveja dos jovens – a vida inteira pela frente, celulite zero etc. Mas, se soubessem como foi a nossa vida, eles também teriam, certamente, muita inveja de nós. Isso se eles soubessem.



por Danuza Leão.

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